quinta-feira, 2 de agosto de 2007

sUPERBADALADOS!

Os fãs que vêm sendo arrebatados pela energia da Superguidis - banda que saiu de Guaíba, na região metropolitana de Porto Alegre, e se tornou uma das maiores promessas do rock nacional - podem ficar tranqüilos: os guris continuam simples, irônicos e provocadores em seu segundo e aguardado disco

CRISTIANO BASTOS

A um passo de ser lançado, o segundo disco da Superguidis, A Amarga Sinfonia do Superstar (SenhorF Discos), vem cercado de expectativas. O desafio é duplo: reproduzir a sensação do trabalho anterior - que revelou mais de um punhado de gemas pop-distorcidas, como "O Coraçãozinho" e "Espiral Arco-Íris" - e, de quebra, desembaraçar-se de vez dos grilhões que os deixam cativos da corroída rotulagem "rock gaúcho". O jogo, no entanto, está praticamente ganho. "Quem curtiu o primeiro disco vai adorar o próximo", afiança o guitarrista Lucas Pocamacha. Você vai entender o que ele quer dizer quando se flagrar repetindo o refrão "de tanto responder perguntas eu virei uma exclamação", de Exclamação, um dos possíveis hits do disco, cuja fita master APLAUSO teve acesso em primeira mão.

Verdade seja dita: eles nem desconfiavam que o álbum primogênito causaria o frisson que os alçou, um ano atrás, ao status de banda mais falada da cena independente brasileira. Em 2006, a revista Bizz os incluiu na lista das "13 bandas que realmente importam no novo rock", ao lado dos hermanos Los Álamos, da Argentina, e do hype nova-iorquino We Are Scientists. Recentemente, a mesma publicação os definiu como "a grande esperança branca do rock independente brasileiro". Uma eleição feita pelo site Trama Virtual elegeu o debut da Superguidis como o melhor disco independente do ano passado. Com o detalhe que, para eles, foi tudo quase sem querer. "Não fazíamos idéia. Só queríamos gravar uma demo um pouco maior e lançá-la", espanta-se Lucas.

E a coisa não pára por aí. Em junho, tocam no Festival Porão do Rock, em Brasília, com Mudhoney e Bell Rays, dos EUA, e os lusitanos do Born a Lion. Em julho se apresentam em Buenos Aires, La Plata e Montevidéo. E lançam um single em vinil da música Mais um Dia de Cão, uma parceria entre as gravadoras SenhorF e Monstro Discos, de Goiânia. No lado B, uma (sub) versão de Everybody's Got Something to Hide, Except From Me and My Monkey, do White Album dos Beatles.

O ponto de partida do estouro foi em 2005. Os guris da Superguidis, estudantes de comunicação da PUC-RS até então conhecidos só no circuito indepentende gaúcho, toparam com o jornalista gaúcho Fernando Rosa, proprietário do selo SenhorF Discos, de Brasília (que lançou outro expoente da nova cena, os acreanos Los Porongas). Deixaram com ele uma cópia da master que tinha a zangada Malevolosidade e a sensível O Banana. Rosa conta que, nos meses seguintes, ouviu a cópia centenas de vezes, torcendo para que se decidissem lançar pelo seu selo: "Na época, escrevi que se tratava de um ‘disco de geração’ - e acho que não errei. A receptividade do álbum e a reação das pessoas, shows Brasil adentro, confirmaram a definição. Não podia ser diferente: com 12 canções exuberantes, o álbum tem tudo o que um disco de rock deve ter: poesia inteligente, guitarras tortas e senso pop de sobra".

O produtor de A Amarga Sinfonia do Superstar e líder da banda Plebe Rude, Philippe Seabra, além de amigo, virou fã dos novos pop-stars de Guaíba: "Eles surgiram no meu estúdio, o Daybreak, como uma lufada de ar fresco soprada pelo ancestral vento Minuano. O futuro do rock brasileiro está nas canções com pegada e postura. Isso os Guidis tem de sobra". Seabra entrega que ficou admirado com a celeridade da banda: "Separamos três semanas de trabalho, sabia que seria rápido. Mas não estava preparado para uma gravação tão ligeira. Mataram o disco inteiro em menos de dez dias! No tempo que sobrou ficamos jogando bola, com exceção do Lucas que, no próximo embate, precisa antes entrar em forma. Ele não agüentou nem quatro minutos de jogo", sacaneia.

No estúdio, banda e produtor optaram pelo método Chas Chandler (que trabalhou com Slade e Jimi Hendrix Experience) de gravação. Isto é: um take só para todas músicas. As artimanhas dos estúdios modernos, como edição e uso de click track (metrônomo quem mantém o baterista no tempo correto da música) e autotune (efeito de pós-produção que afina a voz do cantor), foram deixadas de lado. O segredo, Lucas tenta explicar, "é soar pop sem parecer idiota". A diferença, pontua, está na cara um pouquinho menos infantil que as músicas têm agora: "A ironia mudou de direção. Até poderia dizer que, nesse disco, a ironia está um pouco mais ‘séria’. Só que, por precaução, não vou afirmar isso, não".

Voltando aos rótulos como "rock gaúcho". O objetivo da Superguidis é se manter à parte das bandas que, por opção estética ou falta de referências, tem a "cara do Sul". Na opinião de Lucas falta a essas bandas arejar um pouco a cabeça. "A verdade é que, em Porto Alegre, a galera não está a fim de novidades. Não há mais mercado interno e sequer um selo independente que preste". Outra falha da cena gaúcha, observa o guitarrista, é que ninguém conhece as bandas de fora, e nem quer conhecer, ao contrário do que acontece em outros Estados. Tanto é que a Superguidis cooptou fãs do Oiapoque ao Chuí. "Faz tempo que está rolando um comodismo irritante no Rio Grande do Sul. A impressão é de que o Estado congelou no tempo e, especialmente na música, nos anos 60". Para reforçar o que Lucas diz é só observar o caso da Graforréia Xilarmônica, que não encontrou uma gravadora gaúcha para lançar seu disco ao vivo - editou o trabalho pela mesma SenhorF. Ou então as bandas Pública e Walverdes, que são do selo paulista Mondo 77. "Parece que, no RS, existe um medo de fazer alguma coisa diferente", ele critica.

A Superguidis também não encara o sucesso em suas personificações roqueiras mais clássicas. Os músicos passam longe da pecha de malvadões e garantem nem pensar nos exércitos de groupies desvairadas, ávidas para deixar marcas de batom na cueca do seu roqueiro favorito. "Ainda falta ganharmos alguns milhões para que elas apareçam", despista Lucas. Quanto às drogas, a temível preocupação dos pais nesse negócio profano por excelência chamado rock, então, nem pensar. Diz Lucas: "A melhor droga que nos ofereceram até hoje foi Toddynho, em Belém. Bateu legal".

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