terça-feira, 9 de junho de 2009

tHE gODFATHER oF pUNK

Década de 70. Músicas de 26 minutos e quarenta e sete segundos: elas existem, pode acreditar.
Sons tão complexos quanto o Alcorão e mais caudalosos que o Niágara desaguam dos sulcos dos vinis. Valei-me hipérbole!

Quase esse vira o único modelo de uma geração que estava apenas crescendo nos '70, mas pouco - ou nada - tinha a ver com a mania de grandeza sonora inventada pelos roqueiros. Os grandes músicos, ocupados com viagens egoastrais que mal cabiam nos LP's, nem percebiam que parte da juventude da época não sintonizava na mesma freqüência que a deles.

A década nascia com a ressaca dos sixties e, de largada, já prometia combinações completamente diferentes: individualismo com hedonismo, niilismo com diversão, perdição com drogadição. O futuro era bem mais excitante que o passado recente, que trouxera a espátula. O presente vinha com o bolo: já se desperdiçara um tempão afofando a massa - chegara a hora de atacar!

Só que velhos hábitos são uma praga: "Me descola mais tempo num lado que ocupo na boa", seria frase possível de se ouvir da boca de um músico insatisfeito com o espaço disponível num álbum, por volta de 1975.

Se rock progressivo clássico fosse coisa atual, com as mídias ilimitadas que se têm por aí, não se pode duvidar, esses mesmos caras fariam músicas de 24 horas, de uma semana - quem sabe, de meses, anos até (!). Expedições musicais com nascimento, desenvolvimento e morte da música; inclusive, do próprio músico.

Tais epopéias só foram impedidas porque a pulsão que movia o prog-rock, no seu contexto histórico, hoje, não existe com mesma intensidade. Projeto: Música para uma Vida Inteira.

PLANETA TERRA: 1972-1977.
Reich absoluto do rock progressivo. Bandas de duas toneladas e meia deixam pegadas maiores que a do King-Kong a cada pisada. Os ouvidos dos jovens são massacrados pela megalomania dos rockstars de bata indiana.

Tempos há muuuito deletados - dos lados A & B, dos stereos, das agulhas, das jaquetas LEE, dos autoramas, da revista Pop! e dos singles.

Nos rock dos '70, ser grande era documento: calçar grandes orgias, cheirar grandes botas de plataforma, dar grandes quantidades de cocaína (porque LSD tava fora de moda) - e, sim, fazer grandes shows, compor grandes canções & gravar grandes álbuns.

Mas o rock, que nascera bebê dinossauro, perdera o sentido original, a sacanagem e a direção; não era mais barulhento, se não fosse apoteótico, e pra ser pop, obrigatoriamente, precisava se pasteurizar como leite.

Aos dezessete minutos e meio do solo do teclado em alguma arena gigante, as cláusulas primárias firmadas no pacto que Robert Johnson fechou com Satã, o Pai do Rock, foram esquecidas nalguma encruzilhada do old south.

O rock tinha crescido e se tornado tudo, menos endiabrado: as excessões eram Led & Sabbath, que o impediam de ficar adulto de vez por todas. A tutela do Diabo fora escanteada; passara-se a negociar, às portas fechadas, com poderosas majors.

Elas passaram a representar a figura paterna & bastarda do capeta: tinham os contratos, mas eram apenas "padrastos" & "madrastas". A alma ainda pertencia a Louis Cypher...

Até o punk implodir em 1977, com o start "oficial" dos Sex Pistols, na Inglaterra, e seu séquito de bandas, houve uma mente que vislumbrou a revolução pelo menos cinco anos antes: Marc Bolan.
Bolan viu que tudo andava muito chato e adulto e retomou as rédeas do negócio pro Diabo.

Diversão, com sensibilidade & genialidade, ganhava devido lugar no rock após muitos anos. O capeta deu a maior força.

GODFATHER -
Por isso, entre os britânicos, Marc Bolan é o The Godfather of Punk. Daí alguém pode dizer: "Mas ele era glitter! Nada a ver - olha só o cabelo dele! E as roupas?! O sonzinho: punk?".

Pode ser que, de primeira, você não caia na feitiçaria de Bolan e, muito menos, saque direito como comunica sua misteriosa música. Mas, ouvindo, com o tempo passa a entender que ele foi único: o que mais impressiona é a sua simplicidade.

Marc era tão simples - e sempre exigente - que, segundo Tony Visconti, se não acertava uma canção em três takes logo desencantava. Marc Bolan se transformou no grande herói dos adolescentes que, cinco anos a frente, assumiram o punk & o pós-punk na troca da guarda do glitter rock.

Esses jovens eram Morrisey, Sioux-Sioux, Johnny Marr, Billy Idol, Steve Jones - esse pessoal, todos fãs. Quando Bolan teve o seu programa de televisão em 1977, Marc Shows, na TV Granada, "deu força" pra todas as bandas punk da época, de Generation X a The Jam.

David Bowie foi amigo e rival, mas confesso admirador que um dia entregou sua relativa inveja pelo amigo:

Nunca tive nenhum adversário na Inglaterra, a não ser Marc Bolan. Eu tentei como um louco colocá-lo na lona. Na teoria eu sabia que isso era bobagem, mas na prática eu realmente queria acabar com ele de qualquer maneira

Bowie fez pra ele a belíssima "Prettiest Star", do álbum Aladin Sane. Não precisa explicar mais nada. O Duke Magro cantou "Heroes" no programa de Bolan.

Marc Bolan foi "punk", mas de uma forma bem elegante, na realidade: recuperou o antigo rock simples dos pioneiros Elvis & Perkins e, nem por isso, deixou de sofisticá-lo com sua visão pessoal.

Lembrou, para que nunca se esqueça, novamente, que riffs são a alma do rock: foram inventados pra se abusar, variar e derivar.

A influência de Marc Bolan fez-se sentir em artistas dos estilos mais variados, que apareceram depois dele. Anacronicamente: Violent Femmes, Sig-Sig Sputnik, Patty Smith, Bauhaus, Guns'n'Roses (olha a cartola e o cabelo do Slash...), Supergrass, Kiss, Blondie, New York Dolls, Alice Cooper (Bolan tocou nas sessões de Billion Dollar Babies).

"Marc Bolan foi o primeiro artista que nos disse que o futuro era mais importante que o passado", disse Morrisey na reportagem The Rise & Fall of The Ultimate '70 Superstar, capa da revista inglesa Mojo de maio de 2005.

ASGARD -
Na tradição dos anos 70, editar um single era o motivo para lançar, no lado A, a "música de trabalho", aquela que ia promover o novo álbum.
O precioso espaço do verso não era satisfatório para caber toda gradiloqüencia de viagens cósmico-conceituais.

Um disco com o roteiro a seguir poderia muito bem ter sido feito, se é que não foi. Antes de ler imagine as brumas de Asgard, o primeiro dos três mundos do universo nórdico:

É o reino dos deuses. Em Asgard está situada Valhalla, o palácio dos guerreiros mortos em batalha. Também em uma região de Asgard está Vanaheim, a terra dos Vanir e Alfheim, a terra dos Elfos Luminosos. Em Asgard estão também os palácios de cada um dos deuses, como também Gladsheim, o grande santuário na Planície de Ida.
(?)

A fábula de Asgard, de jeito nenhum, caberia no formato pop - o comprimido formato clássico de 2:24 min. Nem à base de censura. Então, os caras não davam a mínima pro lance.
Leva a pensar que até os progressivos (os pré), um dia, foram mais simples. The Story of Simon Simopath, álbum da banda Nirvana UK (a primeira a usar o nome), de 1967, é dessas histórias contadas de forma resumida.

Consegue ser mais pop, por ser menor, mas já dá pra notar que, a partir de então, clamam para ganhar mais "páginas". Os fãs gastavam seus tostões com os singles, com média de três músicas por compacto: o laureado lado A e, de lambuja, uma ou duas canções no B. Se houvesse algo de bom no verso, lucro!

Poucos artistas deixavam a preguiça de lado pra editar, no lado secundário, um par de canções tão excelentes quanto a apresentada no principal. Afinal, provavelmente, as músicas do lado B, com muita chance, não estrelariam no novo álbum.

Marc Bolan viu que tava tudo errado e reverteu isso com grande efeito pra sua própria carreira, repleta de singles de sucesso que alcançaram o Top of the Pops.

Quem saiu ganhando mesmo foi o miserável público de rock, que perambulava pelas lojas de discos se virando com as antigas bandas de garagem. Talvez seja por isso que Marc Bolan é considerado "realeza" na Inglaterra - Dandy in the Underworld: abasteceu o "teenage dream".

BOOGIE ON! -
Por ordem, a melhor maneira de se iniciar em T-Rex são os álbuns Eletric Warrior, a coletânea Bolan Boogie, The Slider e Tanx.

Todavia, a coletânea Great Hits B-Sides (1972/1977), lançada pela Edsel em 1994, tem algo de very special. Dada perfeição, cuidado & esmero, os B-sides reunidos têm valor de verdadeiros A-sides.

Bolan teve muito cuidado em estúdio ao produzí-los: são pop, no que de melhor o sentido dá à reciclada palavra. Contam que ele se preocupava com a grana que os adolescentes gastavam comprando seus discos. Em troca, queria presentear com os melhores sons que conseguisse gravar.

Great Hits B-Sides é relíquia essencial pros fãs do T-Rex. Ouvintes casuais poderão ser fisgados pelo balanço manhoso de Bolan - daí, um aviso: não tem volta.

No post abaixo, comento todas as músicas reunidas nessa compilação, "obrigação" que tinha desde adolescente comigo mesmo e, só agora, me mobilizei pra fazer.Depois desses anos todos conclui o óbvio: o som continua maravilhosamente igual - até porque, nunca parei de ouvir o disco.

Sim, claro (!), todos os lados A foram hits terrivelmente "grandes" também. O próprio nome já afirma grandeza: T-Rex.A banda tem vídeos da maioria dos singles de sucesso. Reuni aqui pra vocês. Espero que se divirtam-se de montão, como fiz milhões de vezes. Get it On!



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