quarta-feira, 17 de junho de 2009

aRNALDO eM pORTO aLEGRE


POR ROBERTO PANAROTTO*

Estava eu no meu local de trabalho (em Chapecó). Quando recebo via 'messenger' a notícia de que iria ter show do Arnaldo em Porto Alegre. No início não acreditei. Mas tratei de localizar alguns amigos que, assim como eu, são fãs de Mutantes e do Arnaldo para organizar um esquema para ir até Porto.

Achei curioso porque não tinha quase nada na mídia dizendo o que era o evento, como iria acontecer e onde.
Chegou a me passar uma dúvida pela cabeça. Será que vai ter o evento? Será que não vai ter? Será que eu vou, será que não vou?

Resolvi arriscar e fui! No dia (já em Porto Alegre), é que fiquei realmente sabendo o que era e onde que a coisa toda iria acontecer. O local: Galpão do IBGE.

Mas onde diabos fica isso? Não importa. Comprei o ingresso e tratei de ir cedo para entender o que se passava e acompanhar todos os movimentos minuciosamente. O restante das atrações do evento: Júpiter Maçã, Bebeco Garcia e o Bando dos Ciganos. Baladas do Bom Fim. Julio Reny, Pata de Elefante, Os Arnaldos, Suco Eléctrico, Oly Jr.

Sem palavras talvez seria a expressão mais clichê do mundo que eu utilizaria para definir o momento. Mas, no meu caso, em nenhum outro momento essa expressão teve tanto significado. A partir desse dia, eu vou ter que parar de usar a expressão "sem palavras", porque essas serão destinadas eternamente ao momento que vivi no show do Arnaldo.

Já estava acontecendo um frisson desde o momento em que o Arnaldo chegou no local do show. O camarim era numa sala do lado de fora do local dos shows. "Olha, o Arnaldo está chegando!", gritou alguém. Todo mundo saiu para ver ele passar.

Ele entrou na sala e ficou todo mundo rodeando, tentando entrar ou olhar pela janela, tirar uma foto ou filmar um pouco.
Assim que ele subiu ao palco restaram poucos segundos para as pessoas se agilizarem para se posicionar nos melhores lugares. Em poucos segundos o palco estava rodeado de pessoas que não arredavam o pé de jeito nenhum.

Arnaldo pisou no palco com o público se manifestando através de gritos histéricos no melhor estilo "beatlemania". As duas laterais do palco estavam tomadas e os seguranças não conseguiram conter o público que queria se aproximar do Arnaldo, pegar nele, beijar, abraçar, ver de pertinho.


Foi uma das manifestações mais impressionantes que eu já vi com um artista brasileiro que não está na mídia, e que não se apresenta há muito tempo. Ele ficou muito emocionado e surpreso. Tocava trechos das canções, sempre puxadas por um coro (platéia) que o acompanhava com gritos ensandecidos.

A apresentação durou dez minutos. Ele saiu do palco ovacionado e muito aplaudido, com o público gritando "Arnaldo! Arnaldo!". Na hora estava tão emocionado, assim como a maioria das pessoas que estavam no local, que eu não consegui reagir diferente.


Sobre a apresentação, o show em si, o que vimos foi a aparição de um mito. Além do que foi tocado e cantado, as pessoas queriam manter um contato com o ídolo, nem que fosse por alguns minutos. Nesse sentido, a reação do público me pareceu unânime, tanto antes quanto depois do show.

Todo mundo dizia que se ele subisse no palco e apertasse uma nota no teclado e fosse embora já estariam satisfeitos. Música? Que música o quê! As pessoas queriam ver ele. Se ele tocasse alguma coisa melhor.

Se não tocasse, não faria a menor importância.
Depois do show a indignação foi de quem não conseguiu chegar perto do palco pra ver. O ‘camera man’ que transmitia para os telões estava longe e não conseguiu filmar nada, porque a redoma humana que se formou em torno do Arnaldo cobriu tudo.

Ouvir estava difícil porque o publico gritava o tempo todo. Simplesmente inacreditável. Quem é mais louco? O Arnaldo ou o público? Se for pensar assim somos todos loucos.


ENTREVISTA COM ARNALDO BAPTISTA

Roberto
Panarotto – Como é que tu sentiu a reação do público ontem no show?

Arnaldo Baptista – Eu fiquei assustado, porque eu não tenho muita experiência com o público aqui no Sul, né. Eu achei o público muito efusivo, ele se retrai muito, mas, na hora, exteriorizam. Num sentido assim generalizado, comparam o Rio de Janeiro com a Califórnia, São Paulo com Londres e Nova York e aqui comparam com a Escócia. O pessoal aqui já tem uma tradição e eu acho muito bonito.

Panarotto A gente que acompanha a carreira e observa de longe muitas vezes não consegue ter uma real noção do que acontece...

Baptista Ah, isso é verdade. O grau de efusividade no show foi grande e ver o cara aplaudindo e ver que o cara gosta de verdade. É difícil de colocar isso em pratos limpos.

Panarotto Como é que foi pra ti estar lançando um disco novamente depois de tanto tempo?

Baptista – Pra mim foi uma espécie de recomeço da minha carreira, colocando o disco em banca de jornal e com um preço acessível. Então, eu estou tentando entrar nessa alternativa pra fugir da loja de disco com o preço caríssimo. Esse é um momento em que eu estou explorando isso do disco ser vendido em banca e barato.

Panarotto E a divulgação desse disco?

Baptista – Eu estou fazendo bastante coisa. Então, eu estou vendo um jeito de promover esse trabalho. E fazer o melhor que eu posso, né. As entrevistas em televisão tem que ser com pessoas que curtam o suficiente para entender e entrevistar sobre o trabalho.

Panarotto E como tem sido a aceitação do público?

Baptista – Eu estava ansioso para ser julgado. Não adianta eu ficar falando que é assim que é assado, que eu prefiro Fender do que Gibson, se o pessoal não gosta daquilo que eu faço. Então tudo o que eu falo eu consegui botar em forma de música. Eu tenho a impressão que todo mundo tem uma música que está guardada dentro de si, e eu espero encontrar essa música e tocar. Vamos ver até onde eu alcanço.

*Relato (editado) de Roberto Panarotto, que integra o grupo Repolho - ele é um d'Os Irmãos Panarotto -, durante a passagem de Arnaldo Baptista por Porto Alegre, nos tempos de Let It Bed. Saqueado do portal Senhor F. Foto: Ricardo Koktus.


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