quarta-feira, 10 de junho de 2009

qUANDO éRAMOS bEM jOVENS*

Um novo nome está circulando entre os formadores de tendência: The Who. Eles são quatro mods de Shepherd's Bush, e sua popularidade vem ganhando cada vez mais força. Do mesma maneira como aconteceu com o Animals, dois anos atrás.

Assim como o Animals e o Yardbirds, o Who é produto do cenário das casas noturnas.

Atualmente, com um hit nas paradas e outro a caminho, eles são reconhecidos pelo povo "por dentro" por estarem na crista de uma onda de sucesso que pode fazer deles a nova sensação - numa escala nacional.

The Who é Roger Daltrey (20 anos, vocalista), Pete Townshend (19 anos, guitarrista), John Entwistle (19 anos, baixista) e o baterista Keith Moon, 17.

Sua música é desafiadora, assim como sua atitude. Seu som é viciante. Este não é um grupo afinado de showbiz, cantando em harmonia e tocando acordes limpos de guitarra. O Who deita uma batida pesada, aplicando grande ênfase nos ritmos alternados.

Moon troveja por toda sua bateria. Townshend desenha círculos completos com seu braço direito. Ele golpeia uma espécie de código morse ao ligar e desligar os pick-ups de sua guitarra. As notas se contorcem e ganem. Ele vira-se num repente e arremessa o braço de sua guitarra contra o amplificador. Um acorde treme com o impacto. O amplificador balança.

Townshend ataca novamente no ressalto. Ele rasga a tela de proteção, rompe o cone do alto falante, e um solo distorcido é cuspido do amplificador demolido.

Multidões presenciam fascinadas tais demonstrações de violência.

O Who teve início há um ano, mudando seu nome para The High Numbers. Eles começaram a tocar regularmente no Goldhawk em Shepherd's Bush, mas avançaram para o emplumado Marquee no West End de Londres.

Eles se tornaram os favoritos dos mods. Os mods se identificavam com o Who porque o Who se identificava com eles. A música pop costuma se aliar a tendências sociais e estilos. E foi assim que se sucederam os primórdios do Who.

Pete Townshend usa uma jaqueta de veludo e Roger Daltrey, calças bem justas. Mods só ouviam música mod. É um show exaustivo de se assistir. Mas também altamente original e preenchido com um ritmo tremendo.

Qual o barato do Who no palco?

Townshend: "Não há repressão em nosso grupo. Dizemos o que queremos, na hora que queremos. Se não gostamos de algo que alguém esteja fazendo, falamos na cara."

"Nossas personalidades colidem, mas discutimos e extravasamos os problemas. Há bastante fricção, e fora do palco não somos particularmente companheiros. Mas não importa."

"Se não fôssemos assim isso destruiria nossa apresentação. Nós tocamos de acordo com o que estamos sentindo."

O Who está ligando sua imagem à pop art. Eles descrevem seu atual sucesso nas paradas, "Anyway, Anyhow, Anywhere", como "o primeiro single pop art".

"Pop art é algo aceitável pela sociedade, mas representamos isso de uma forma diferente. Como a bandeira do Reino Unido. Ela deveria ficar no mastro. Mas John a usa como casaco."

"Nós achamos que o movimento mod está morrendo. E não pretendemos afundar com ele, e foi por isso que nos tornamos individualistas."

Pessoas anti-Who taxam seu som de atravancado e barulhento. E o Who acha ótimo. "É a melhor publicidade que poderíamos ter."

O Who é composto por modernos rebeldes com causa. Há sadismo em sua índole e em sua música. Mas pelo menos eles estão trazendo algo novo para o mundo pop.

Eles são sem sombra de dúvida o grupo mais emergente do cenário atual. E com legiões de fãs gritando à sua frente, eles podem muito bem serem os grandes astros de amanhã.

*Dito e feito. Melody Maker, 05/06/1965. Tradução: Vinícius Mattoso. Daqui ó.


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