domingo, 26 de abril de 2009

rETRATO dE uMA gERAÇÃO

POR MARCELO BENVENUTTI

Escolhi publicidade na fila da inscrição
pro vestibular da PUC em 1995. Tinha feito Um semestre de jornalismo em 1988 e largado para fazer uma só faculdade por vez, em vez de Duas ao mesmo tempo, e me formei contador pela UFRGS.

Não sei se foi certo ou errado, sempre gostei de jornalismo e nunca trabalhei até hoje em publicidade, e nem acredito que vá trabalhar. Tinha apenas o ingênuo pensamento em fazer uma faculdade que eu pudesse usar minha habilidade em escrever. Baita engano.

Na publicidade logo vi que o lance era todo visual e eu, um pretenso escritor, estava perdido naquele meio de Photoshops, máquinas digitais e programas de desenho. Mas ainda me enganei por alguns semestres.

Nos três primeiros semestres, com o curso básico e as turmas de PP, Jornal e RP misturadas, é que as amizades se formavam. Eu fazia um trio com dois colegas, o Andrezinho, que até hoje trabalha com uma empresa de vídeos de formaturas, casamentos e o cacete, e o Tiago Carnevale,
vulgo Testa, colorado doente, que é um dos melhores editores de vídeo de Porto Alegre.

Saíamos da aula para os malfadados bares da Bento, Sbornia e aquela escória toda. Com o tempo minhas amizades foram aumentando e, por afinidade como diriam os macacos do BBB, eu só andava com o povo do Jornalismo.

O Cocó, colorado e maconheirista, o Alisson e o T.Rex formavam um trio tenebroso no saguão da Famecos, olhando peitos e bundas das minas que passavam, bebendo ceva e utilizando-se de narcóticos proibidos no pátio.

Naquela época, antes da invasão da BM lá por 1997, o pátio da FUMECOS era o centro global da maconheirização da PUC. Depois aos poucos tudo foi sendo proibido, inclusive a ceva, cujo último reduto foi o bar do Hospital, do outro lado da Ipiranga.

T.Rex, Cristiano Bastos, jornalista que considera os cotovelos um órgão erógeno, tinha esse apelido por sua tara insana por Marc Bolan.

Juntavam-se a nós o mau caráter do Rafael Rossatto, comedor de travecos e bicha não-assumida, e Carlos Carneiro, vulgo Carlinhos, Carneiro ou, para os íntimos, o Gordo.

Sem falar, claro, em Francisco Bretanha, mais conhecido como Chicão ou o nosso Personal Preza.

Em torno dessas mentes insanas adentrei-me invadindo, vi que eles eram doidos como eu, só que eu de cara, e logicamente me identifiquei com suas causas desmotivadas de qualquer interesse comercial, somente porralouquice inconsequente, traduzida pelo lema:

"TREPEM NAS RUAS!".

Ou como diria Kátia, nossa musa inspiradora esborniana, moça romântica que encontrou o amor e hoje espera o segundo filho: "PAU PRA FORA!".

O zine ZÊ foi apenas um dos caminhos percorridos por essa trupe, a qual muitos outros nomes se juntam. Lembro que certa vez, largando minhas histórias impressas em word da pré-história, eu que tinha um zine no GEOCITIES, e mostrava pros malucos.

Certa vez, furando a roda de bate-papo, todos me olharam incrédulos, quando Carlinhos me defendeu (ninguém me conhecia): "Ele é louco mas é gente boa".

Dessa época, insulflado pelo auge do Garagem Hermética, da psicodelia osvaldiana, Lancheira do Parque, fim do século 20, do mundo e da escrita em primeira pessoa, nasceu em uma festa organizada pelo mkoviemaker selfmademan Cristiano Zanella chamada Cinemeando que nasceu
o significativo grito de guerra Flesh Nouveau!:

ARRRRTE!!!

Gritado ao extremo quando na presença de qualquer manifestação intelectualóide que nos tirasse
de nossa misantropia alcoólica. O mundo estava mudando e nossa rebeldia pós-punk era vista com maus olhos pela estética WEB dos neo-nerds.

Retratamos nossa inconformidade no texto "CHUTE O TRASEIRO DOS ALTERNATVOS", na qual fomos repelidos pela sociedade, assim como nossos ícones, uns velhos que hoje se auto-intitulam MC5.

A nos iluminar fulgura a sombra de William Caveman, o verdadeiro espírito punk, morto pela AIDS, e sobre o qual estamos escrevendo um romance documentário chamado TESTEMUNHAS DE JOHN LENNON.

Obviamente não desistimos.

Estamos mais velhos e cada vez piores.

Ou, como diria T.Rex, excitado em um Garagem lotado, de braços cruzados, sorriso largo e olhos tenebrosamente amáveis:

"SINTO PEITINHOS EM MEUS COTOVELOS".

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