Fui produtor de discos durante muitos anos. Verifiquei que o produtor tem o dever de respeitar certas regras. Por exemplo: o cantor não deve gravar de manhã, porque a voz ainda não está limpa e as notas altas não são alcançadas com facilidade.
Vi também que cada cantor tem a sua mania no momento de gravação. Alguns pedem para apagar a luzes, outros tiram as roupas (a Simone, por exemplo, gravava nuinha em pelo).
Com Nelson Gonçalves, nada disso acontecia. Se o estúdio tivesse vago apenas às oito horas da manhã, ele cantava às oito. A única coisa que pedia era café. De resto, gravava vestido, com a luz acesa, sem problema nenhum.
Trazia apenas, para falar a verdade, um problema para o produtor: Nelson dava-me uma grande sensação de inutilidade. Eu, que adoro dirigir cantores, não tinha nada para dizer para Nelson Gonçalves.
Soltava a fita, ele colocava a voz e fim de papo. Tudo perfeito. Às vezes, somente para justificar o dinheiro que a gravadora me pagava, fazia uma observação desse tipo:
- Nelson, vamos gravar outra vez, porque você não botou sentimento em tal verso.
Ele voltava para o microfone, fazia a mesma coisa que fizera antes e eu, cinicamente, concluía:
- Agora, sim, a interpretação está correta.
Que cantor extraordinário é Nelson Gonçalves! E que figura humana maravilhosa! Se fosse norte-americano, já teria sido filme, show na Brodway, livro, o diabo. Nelson atravessou todos os acidentes que a vida e a carreira lhe proporcionaram com a voz incólume.
Aproveito, aliás, para revelar um dado da sua biografia que ele, certa vez, me confidenciou. O seu pai era um português malandro. Muito malandro, por sinal. Tão malandro que se fingia de cego, no Largo da Sé, em São paulo, para pedir dinheiro aos transeuntes.
Em cima de um caixote, um menino de cinco anos cantava para atrair a atenção do público, enquanto o pai passava o chapéu.
Aquele menino era Nelson Gonçalves.
Aliás, foi assim que inicou a sua carreira de cantor.
Vi também que cada cantor tem a sua mania no momento de gravação. Alguns pedem para apagar a luzes, outros tiram as roupas (a Simone, por exemplo, gravava nuinha em pelo).
Com Nelson Gonçalves, nada disso acontecia. Se o estúdio tivesse vago apenas às oito horas da manhã, ele cantava às oito. A única coisa que pedia era café. De resto, gravava vestido, com a luz acesa, sem problema nenhum.
Trazia apenas, para falar a verdade, um problema para o produtor: Nelson dava-me uma grande sensação de inutilidade. Eu, que adoro dirigir cantores, não tinha nada para dizer para Nelson Gonçalves.
Soltava a fita, ele colocava a voz e fim de papo. Tudo perfeito. Às vezes, somente para justificar o dinheiro que a gravadora me pagava, fazia uma observação desse tipo:
- Nelson, vamos gravar outra vez, porque você não botou sentimento em tal verso.
Ele voltava para o microfone, fazia a mesma coisa que fizera antes e eu, cinicamente, concluía:
- Agora, sim, a interpretação está correta.
Que cantor extraordinário é Nelson Gonçalves! E que figura humana maravilhosa! Se fosse norte-americano, já teria sido filme, show na Brodway, livro, o diabo. Nelson atravessou todos os acidentes que a vida e a carreira lhe proporcionaram com a voz incólume.
Aproveito, aliás, para revelar um dado da sua biografia que ele, certa vez, me confidenciou. O seu pai era um português malandro. Muito malandro, por sinal. Tão malandro que se fingia de cego, no Largo da Sé, em São paulo, para pedir dinheiro aos transeuntes.
Em cima de um caixote, um menino de cinco anos cantava para atrair a atenção do público, enquanto o pai passava o chapéu.
Aquele menino era Nelson Gonçalves.
Aliás, foi assim que inicou a sua carreira de cantor.
*Sérgio Cabral: jornalista e amigo de Nelson Gonçalves, no encarte do box set 50 Anos de Boemia.